domingo, janeiro 08, 2006

A carroça vazia

Uma das grandes preocupações de nosso pai, quando éramos pequenos, consistia em fazer-nos compreender o quanto à cortesia é importante na vida.Por várias vezes percebi o quanto lhe desagradava o hábito que têm certas pessoas de interromper a conversa quando alguém está falando. Eu, especialmente, incidia muitas vezes nesse erro. Embora visivelmente aborrecido, ele, entretanto, nunca ralhou comigo por causa disso, o que me surpreendia bastante. Certa manhã, bem cedo, ele me convidou para ir ao bosque a fim de ouvir o cantar dos pássaros. Concordei, com grande alegria, e lá fomos nós, umedecendo nossos calçados com o orvalho da relva. Ele se deteve em uma clareira e, depois de um pequeno silêncio, me perguntou: Você está ouvindo alguma coisa além do canto dos pássaros? Apurei o ouvido alguns segundos e respondi: Estou ouvindo o barulho de uma carroça que deve estar descendo pela estrada. Isso mesmo... - disse ele - É uma carroça vazia... De onde estávamos não era possível ver a estrada e eu perguntei admirada: Como pode o senhor saber que está vazia? Meu pai pôs a mão no meu ombro e olhou bem no fundo dos meus olhos, explicando: Por causa do barulho que faz. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz. Não disse mais nada, porém deu-me muito que pensar. Tornei-me adulta e, ainda hoje, quando vejo uma pessoa tagarela e inoportuna, interrompendo intempestivamentea conversa de todo o mundo, ou quando eu mesmo, por distração, vejo-me preste a fazer o mesmo, imediatamente tenho a impressão de estar ouvindo a voz de meu pai soando na clareira do bosque e me ensinando: Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.

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Asas

Muito tempo atrás... depois do mundo ser criado e da vida completá-lo, houve um dia, numa tarde de céu azul e calor ameno um encontro ...